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“Toca-me Deus com Teus dedos santos
E arranca-me da escuridão que me tornei”.

— Petrov, “Divino”.


Scorpio nunca foi a mais confiável das pessoas.

Não que exista um julgamento acerca desse fato — mas o que basta para entender Blackthorn é saber que ele sempre visou sua própria sobrevivência. Afinal, em domínios mundanos, onde tantos os humanos quanto os monstros representavam ameaças à vida semidivina, foi necessário que tudo em sua vida fosse precoce demais.

Tão precoce que lhe parecia que a vida passou rápido pela janela.

Amores, desejos, traumas: eram componentes da amálgama que havia se tornado o coração do americano. Ele trazia a morte da família como um lembrete de que não podia parar, devia estar sempre em movimento. Essa dinâmica não superada, a ausência de um estado estático de consciência, moldou um homem frio e de personalidade ímpar, às vezes difícil de lidar. Era alguém cujo semblante sempre beirava o da ironia e do sarcasmo, utilizando-se disso como arma contra quem tentasse se aproximar.

O fato de jamais ficar muito tempo em um só local — em prol de sua sobrevivência —, fê-lo perder qualquer sentimento de pertencimento ou lar. Desprovido disso, também nunca foi capaz de conectar-se a fundo com outras pessoas temendo que a perda delas lhe causasse mais dores em seu coração já cheio de chagas.

Scorpio não é uma pessoa ruim. Passa longe de qualquer espectro de bondade e de virtude, porém, utilizando seus dons e conhecimentos para enganar e manipular aqueles ao seu redor. Ironicamente, o filho da deusa do amor nutria em seu peito nada semelhante à esfera de poder de sua mãe — na verdade, cultivava o ódio. Ódio esse que o fez jurar vingança contra a raça humana.

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